sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Fortaleza a Natal de bicicleta


Relato do cicloturista Fabricio Lacerda sobre os dez dias de viagem

O mês era Julho, naquela manhã algo me deixava inquieto, mesmo feliz com o trabalho, minha memória me remetia aos tempos de outrora. Ao ir ao trabalho encontro dois cicloturistas a pedalar, parei e com um bom papo já éramos amigos, eram espanhóis e pedalavam desde Florianópolis, logo seguiram, junto com eles foi também minha vontade de acompanhá-los, mas, o trabalho me esperava, percebi que mesmo com datas e prazos a cumprir, eu precisava organizar meus desejos.

A noite o plano já estava pensado, iria percorrer os 600 quilômetros que separavam Fortaleza de Natal, na bagagem levaria 4800 quilômetros de quilômetros percorridos, entre Natal e Florianópolis, este trecho eu percorri em 4 meses, com um teatro de fantoches falando sobre a importância da higiene bucal e distribuindo escovas de dente.

E então partimos em dois no dia 01 de setembro, rumo a Fortaleza, cidade que encanta os visitantes, lá visitamos o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura , uma infra-estrutura completa para o exercício do lazer e da arte, que tem como objetivo democratizar o acesso à cultura, gerar novos empregos e movimentar o mercado turístico cearense, são 30 mil metros quadrados de área com atrações como o Memorial da Cultura Cearense, o Museu de Arte Contemporânea, o Teatro Dragão do Mar, as salas de cinema do Espaço Unibanco Dragão do Mar, o anfiteatro Sérgio Mota, um Auditório e o Planetário.

Nesta viagem tivemos a presença constante de falésias, e o vento castigante em todo o litoral, eu e meu amigo Juvenal conhecemos Canoa Quebrada, no passado a vila foi de hippies e alternativos, com a especulação imobiliária o local triplicou de tamanho e ganhou chiques pousadas e grande hotéis, hoje Canoa é um procurado point de kitesurfistas em busca bons ventos para aperfeiçoamento de manobras, o município leva o título de 4º local no mundo para a prática do esporte, a noite rajadas de vento eram sentidas, mostrando que ele estaria presente em toda cicloviagem.

Pedalávamos muito pela areia de praia, às vezes usando estradas secundárias, os dias de sol escaldante eram constantes, e muita gente humilde e hospitaleira sempre estava no nosso cotidiano.

No município de São Cristóvão, ao subir para a cidade erramos por sorte e vimos um dos mais belos visuais de toda a viagem, este pequeno erro quase nos deixou sem água, o jeito era parar e pedir em uma das humildes casas locais, logo os donos já eram grandes amigos e insistiam em ficarmos para almoçar, a falta de crimes em pacatas regiões fortalece os laços de amizade e toda visita é motivo de festa, mas a viagem tinha de continuar...

Muitas salina estiveram ao nosso lado próximo a Macau, neste dia meu joelho doía sem parar, sorte a minha que meu médico e parceiro de viagem estava ali para me atender, seguimos ate o braço de rio que nos levaria até Galinhos, almoçamos e uma pequena soneca foi tirada em redes cedidas por Nalva, nesse trecho da costa brasileira a rede é sinônimo de paz e tranqüilidade, um símbolo da cultura local. Bem o sono tava bom mais ainda tinha um trecho de praia a ser percorrido, a laje de pedras foi apelidada de asfalto de Deus e nele percorremos
mais 5 quilômetros do trecho, o por do Sol mais bonito de toda a viagem foi nos mostrado neste trecho, a felicidade e a brincadeira tomou conta do momento, talvez a energia do Sol fosse responsável.

A noite chegou e ainda estávamos pedalando pela praia, neste momento houve um resgate das estórias de criança e nós pudemos fazer um pouco de medo um ao outro, já avistando luzes da cidade, paramos de pedalar e empurramos as magrelas por questão de segurança, na entrada da pequena cidade, meu parceiro entrou numa igreja e rezou, eu agradecia poder mais uma vez rever meus conceitos e estar na estrada, adquirindo um pouco da cultura caiçara e buscando a plenitude do meu ser.

No dia 07 de setembro pus a Bandeira presa na bagagem e com o sentimento de nacionalismo na cabeça, mesmo sabendo das desigualdades sociais, tinha um enorme prazer de ser brasileiro, em todo o trecho no litoral, não houve lugar que eu fosse mal recebido, a receptividade do povo local sempre fora o diferencial do Brasil, ainda que a falta de estrutura algumas vezes fosse presente o carisma desse povo simples e humilde brilhava em nossos olhos.

No penúltimo dia de viagem o relógio tocou as 04h15min o relógio tocou, era à hora de fecharmos os alforjes e seguirmos para a estrada, o tempo nublado, parecia ser chuva, o trecho de asfalto pra nossa sorte neste dia não tinha vento, uma leve garoa chegou e após 25 quilômetros vimos em nossa frente o imponente Farol do Calcanhar com suas cores preto e branco, é um ponto de sinalização para os barcos que singram os mares dessa região, pra nós um monumento que traria novamente a direção leste oeste do litoral, o Farol de responsabilidade da Marinha brasileira é segundo maior farol do mundo, com 62 metros de altura e 296 degraus, não pudemos conhecê-lo já que as visitas só são permitidas aos domingos, das 14h00min às 17h00min h, bola pra frente, ou melhor, pé no pedal pra encararmos as pequenas dunas e logo descemos à praia, a nossa esperança de que os ventos melhorassem a partir dali, ficou junto com o Farol, as fortes rajadas continuaram intensas, nesta região cruzamos estradas de terra, muitas com captadores de energia eólica, grandes cata-ventos que inundam a paisagem.

Já em Maracajau, localizada a 60 km no Litoral Norte de Natal, a praia combina suas belezas naturais com uma atmosfera tranqüila, esta pequena Vila de Pescadores conserva ainda as suas características originais, com suas jangadas aportadas sobre areias brancas e coqueiros à beira-mar formando um cenário paradisíacos, suas águas guardam segredos e nos convidam a mergulhos refrescantes, os recifes de Maracajaú, chamados de Parrachos, distam cerca de 7km da praia, com profundidade que variam entre 1,0 e 4,0 metros na baixa-mar, são constituídos por formação de alga calcária que servem como substrato para diversas espécies marinhas crescerem e se reproduzirem, podem ser encontradas quatro espécies diferentes de corais, centenas de espécies de peixes, crustáceos, moluscos, equinodernos e algas.

O último dia de viagem mostrava sinais de tranquilidade, a cadência dos pedais pelas estradas de terra tinha um misto de saudades e sentimento de conquista, os dez dias tinham se passado um junto com eles as belíssimas paisagens, a enorme diferença entre do cotidiano nos remetia a volta para casa, a bike do meu parceiro Juvenal apresentava sinais de desgaste no cambio traseiro, ainda no trecho surgiram belíssimos trechos até cruzar a balsa e pararmos em Genipabu, local onde organizaríamos toda a bagagem levado no projeto, inclusive as bikes seriam desmontadas e postas no mala bike, para o transporte de avião, Hélio um simpático bugueiro, nos ofereceu um passeio radical pelas dunas móveis, aceitamos e acertamos também o traslado até o aeroporto, a noite ele nos pegaria até lá, a tarde foi para o passeio que decola em dunas de até 70metros e um merecido descanso na praia de Genipabu.

Fabricio Lacerda Alves
Coordenador de Eco-Atividades
Peregrinos- Esportes de Aventura.
(0xx79) 9962 2293
(0xx79) 3255 2750

3 comentários:

João Tércio disse...

Fabricio Lacerda Alves e seu companheiro de viagem,
fiquei impressionado com a odisséia da qual vocês participaram.
Sou natalense e já residi em Fortaleza. Conheço as belezas dessas duas Capitais. Hoje resido no Recife, mas estou tentado a repetir o percurso que vocês venceram.
Parabéns aos dois. desejo que Deus sempre ilumine a amizade de vocês, e que muitas outras aventuras possam ser compartilhadas entre vocês.
Abraço.
João Tércio

PikíDaTrilha disse...

Olá, Fabrício!

Parabéns pela aventura e pelo ótimo relato.
Qdo for realizar essa travessia, entrarei em contato.

Abs,

Elias - PikíDaTrilha - Brasília/DF
www.pikidatrilha.blogspot.com

Hubbley disse...

7 anos depois e seu comentario sobre este seu passeio de bicicleta, que eu resolve fazer o mesmo percurso. Maio de 2014 - Fortaleza / Natal em 5 dias - sendo 430 de bike e os 125 restantes correndo.